Muçulmanos em Suriname

Publicado em 04/02/2020

Mesquita ao lado de sinagoga: símbolo da tolerância religiosa no Suriname.

O Suriname, apesar de ser um país vizinho ao nosso, ainda é bastante desconhecido pela maioria dos brasileiros. É também um dos países mais culturalmente diversos da América do Sul, sendo um quadro bem variado de etnias e religiões. Segundo um relatório elaborado pelo Sínodo da Amazônia, 40,7% dos surinameses são cristãos, 19,9% são hindus e 13,5% são muçulmanos. De acordo com o Pew Research Center, o país tem a maior porcentagem de muçulmanos das Américas (cerca de 16%), à frente de Guiana (7%) e Trindade e Tobago (6%).

Segundo ARAUJO (2009), os muçulmanos do Suriname se dividem em dois grupos étnicos: hindustanos (oriundos da Índia Britânica) e javaneses (da Ilha de Java). Porém, os primeiros muçulmanos a chegarem ao Suriname foram escravos nativos da África, no séc. XVII. Entretanto, a religião deles, tal como sucedeu no Brasil, não vingou. Nos dois séculos seguintes (séc. XIX, XX), asiáticos foram contratados para trabalhar nas lavouras do Suriname - foi então que chegaram os dois referidos grupos étnicos. Os javaneses vinham das Índias Orientais Holandesas para o Suriname, que também eram uma colônia holandesa.

Mesquita Ahmadia em Keizerstraat.
Os hindustanos seguem a Escola Hanafita, uma das quatro escolas tradicionais de jurisprudência do sunismo, e usam o idioma urdu em suas reuniões. Os javaneses seguem a Escola Chafeíta, outra das quatro escola de jurisprudência sunitas, e usam a língua javanesa. A partir de 1920, chegou ao Suriname o movimento Ahmadia (Ahmadiyya), fundado por Mirza Ghulam Ahmad, no Paquistão, por volta de 1880. A doutrina da comunidade Ahmadia é considerada não-islâmica por muitos sunitas e xiitas, já que ela afirmaria que Mirza Ghulam Ahmad teria se auto-proclamado Profeta, contrariando a crença islâmica segundo o qual Muhammad foi o derradeiro Profeta. Em todo caso, os ahmadis também estão presentes no Brasil e possuem, inclusive, uma mesquita em Petrópolis. Até hoje, nenhum trabalho acadêmico foi produzido sobre este curioso grupo, até onde pudemos constatar.

Mesquita em Comowejne
Além das diferenças apontadas acima, as mesquitas de hindustanos e javaneses seguem estilos arquitetônicos distintos, sendo as primeiras em estilo Mughal e as últimas no estilo próprio do arquipélago indonésio (geralmente em cor esverdeada). Também há diferenças em relação à direção das orações. Estranhamente, os javaneses rezam voltados para o oeste, tal como os seus antepassados faziam em Java (já que Meca fica à leste de Java). Os hindustanos, ao contrário, alteraram a direção de suas orações ao se mudarem para o Ocidente, e rezam em direção ao leste. As diferenças em relação à direção das oração é uma permanente controvérsia entre as comunidades.

Fonte: ARAUJO, John da Silva. O ''Oriente'' no ''Ocidente'': observando o islã no Suriname. Dissertação (Mestrado em Ciências Sociais). Belém: Universidade Federal do Pará, 2009. Disponível em: http://repositorio.ufpa.br/

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